quarta-feira, 2 de maio de 2012

Escrito por Luiz Fernando Veríssimo, em novembro de 1998





Tem gente que a gente bota num pedestal e, mesmo sem querer, trata como um monumento. Não sei se o Sampaulo notou que, na primeira vez em que falei com ele, eu estava falando com uma estátua. Eu era seu admirador – eu e toda a torcida do Grêmio e do Internacional juntas – mas não me lembro se disse isto ou se não disse nada, e só fiquei ali curtindo aquele fato, o Sampaulo, o Sampaulo da “Folha”, na minha frente, em carne e osso. Ou em bronze.
Mas o que eu queria dizer é que o próprio Sampaulo nunca se pôs num pedestal, embora tivesse todo o direito de andar com um embaixo do braço. Ele era uma das personalidades da cidade, um dos grandes jornalistas de uma época de jornalistas inesquecíveis. E, no entanto, lembro dele lá em casa cercado de guris cartunistas, numa das tantas vezes em que nos reunimos para bolar coisas que nunca aconteceram (ou aconteceram pouco) e nenhum dos guris estava sentado aos seus pés, nem metaforicamente. O Sampaulo participava das reuniões como se fosse um iniciante. Ali, no chão, com a gente. E o monumento tomava cerveja!
Não sei se ele vai gostar destas reverencias. Afinal, o negócio dele sempre foi a irreverência, o ofício de botar o dedo em feridas e derrubar posudos dos seus pedestais. Mas quando fizerem a estátua mesmo, eu quero colaborar.

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